quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Também temos a nossa parte no crime de guerra contra o Iraque

A Base das Lajes, no seguimento, aliás, da sua tradição, ficou ligada material e simbolicamente ao brutal ataque e invasão do Iraque pela coligação EUA/Reino Unido. Os governos da península Ibérica estiveram em uníssono nesse crime. Durão Barroso e Paulo Portas contaram com o outro mentiroso aqui ao lado, Aznar.

Hoje, Barroso é o Presidente da Comissão Europeia a convite da “velha Europa” que continua a ser a mesma Europa do cinismo e da diplomacia invertebrada, que depois de ter assumido uma aparente posição contra o ataque ao Iraque, rapidamente se converteu à realidade e decidiu participar activamente no saque.

Durão Barroso (acompanhado por Paulo Portas ) garantiu que tinha visto as provas (mostradas por Tony Blair e por Bush) da existência de ADM (Armas de Destruição Maciça). Essa mentira nunca devidamente escalpelizada pelos institutos competentes (Assembleia da República e Presidente da República) foi o argumento avançado pelo Governo português para disponibilizar a Base das Lajes, cuja escolha tinha sido já decidida por Bush no pleno uso dos seus poderes absolutos sobre a mesma e, informalmente, sobre Portugal e os Açores.

A base das Lajes viu assim coroado o seu papel de decénios ao serviço da política agressiva dos EUA. E assim continua.

Mas a Cimeira das Lajes, em Fevereiro de 2003, defrontou-se com a maior série de protestos e manifestações desde sempre, nos Açores, contra a utilização da Base Antes da Cimeira, durante a Cimeira e depois, os açoreanos manifestaram vivamente o repúdio pela presença de Bush, Blair, Aznar e, na circunstância, do próprio Durão Barroso em solo açoreano, exactamete para a partir dali desencadearem um crime contra a paz e sem que da parte da Assembleia da República e do Presidente da República se ouvisse um gemido que fosse, em desrespeito total e pusilânime pela vontade da grande maioria dos portugueses que, ouvidos em várias sondagens, se manifestaram claramente contra a guerra.

A manifestação junto ao arame farpado da Base correu mundo, as manifestações de centenas de pessoas no Faial e em Ponta Delgada, o sitting dos estudantes universitários que ouviram dos polícias destacados para os desalojarem, e apenas os mudaram de passeio, que “eu se pudesse também aí estava sentado”; o buzinão infernal durante dias quando os carros passavam na Avenida Marginal junto do consulado dos EUA em Ponta Delgada, marcaram esses dias tristes, que trinta milhões de pessoas nas ruas, um mês antes, em 15 de Fevereiro, quiseram ter exconjurado. Dias tristes e dramáticos para o mundo e para a civilização que foi irremediavelmente violentada nas suas raízes. Para o Iraque foi o inferno, mas os iraquianos felizmente também souberam transformar a vida dos ocupantes num inferno.

A versão ou tese de que nos dias de hoje a Base das Lajes de pouco serve dada a capacidade de abastecimemto em voo e a muito maior autonomia das aeronaves, é desmentida pelos próprios EUA que, depois do 11 de setembro e da proclamação da guerra infinita, consideram que, mesmo no quadro de uma profunda reestruturação das Forças Armadas dos Estados Unidos, com encerramento de numerosas instalações militares, dentro do próprio País e no estrangeiro, “esta grande base continuará a ter um papel chave nos esforços pelo progresso por maiores que eles possam parecer” como foi dito pelo Congressista Devin Nunes num encontro em Novembro de 2003, em Ponta Delgada, organizado pelo Presidente da AR, Mota Amaral e pelo speaker do Congresso Norteamericano, Dennis Hastert.

A importância das Lajes não pode ser minimizada na estratégia de guerra infinita, a chamada guerra contra o terrorismo. A sua localização e capacidades ajustam-na perfeitamente ao apoio das operações da Força Aérea nº 3 estacionada em Inglaterra de acordo com o mesmo congressista.

Por seu lado as autoridades portuguesas fazem alarde desse interesse, sublinhando que mesmo que a NATO se desmembrasse, ele se manteria para benefício dos EUA e orgulho de Portugal

A NATO representa um dos factores principais de alienação da soberania e de controlo sobre os processos políticos em Portrugal, em especial depois do 25 de Abril.

Em 1980 no General Haig dizia: “a NATO é uma forma eficaz de obviar aos movimentos revolucionários nos países que a integram”.

Ao contrário do argumento mais comum e de maior efeito para enaltecer a NATO, esta não teve qualquer papel na defesa da paz, como não tem na declaração de guerra, sendo esta atribuição exclusiva dos EUA.

A NATO nunca foi outra coisa que um instrumento de controlo dos EUA sobre a Europa. O recente alargamento da Aliança Atlântica sublinha a liderança incontestada dos EUA que dispõem de um instrumento político-militar colectivo, cada vez mais dócil e cada vez menos de primeira linha. Serve sobretudo para assegurar a harmonia no redil e utilizar à lista. A confirmá-lo, temos as palavras recentes de G.W.Bush na Cimeira de Fevereiro de Chefes de Estado e de Governo da NATO no Quartel General da Aliança em Bruxelas. : “a NATO é a pedra basilar das relações transatlânticas porque na NATO a Europa está completa, unida e em paz”. Ele o disse, está dito. O resto do pessoal não se sabe o que diz ou pensa, apenas que obedece.

Lamentavelmente o Estado português não foi capaz de aproveitar o isolamento dos EUA, na agressão e ocupação do Iraque, para sacudir o jugo. Preferiu tornar-se cúmplice e interveniente activo do crime contra a paz e dos crimes de guerra contra o povo iraquiano.

A exigência da saída dos EUA das Lajes e da saída de Portugal da NATO, torna-se cada vez mais entendida pela opinião pública como uma necessidade para a salvaguarda da soberania, para a defesa do Estado de direito democrático e da dignidade de Portugal.

Assim como se exige que seja o povo em referendo a ratificar ou não o Tratado de Lisboa, ou seja a continuação e agravamento desta colonização moderna.

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